- Arth Silva -
O nosso maior
erro é querer achar ALGUÉM PERFEITO. Alguém cujos gostos musicais, políticos,
cinematográficos, sociais, futebolísticos, gastronômicos e filosóficos sejam
idênticos aos nossos e, por isso, essa tal pessoa é a nossa “Alma gêmea”.
Quer alguém
idêntico a você? Dê um beijo de língua no espelho.
Ao querer
buscar uma personalidade igual a nossa no outro, deixamos de aprender com a
diferença.
É a diferença
que trás o novo. É diante do desconhecido e de como lidamos com ele, que surge
nosso amadurecimento.
O
ideal é uma relação perfeitamente complementar. Na qual em você “sobre” o que
nela “falte”, e esta, por sua vez, supra todas as suas falhas, e, mesmo assim,
os dois ainda tenham defeitos.
Sei que não é
fácil saber reconhecer a diferença de alguém e, o mais importante, aceitá-la. Fazer isso é ser um artista cotidiano.
Antes de
conseguir aceitar o próximo, é preciso aceitar a si mesmo. Uma pessoa que não
aceita com facilidade diferentes opiniões ou estilos, é uma pessoa que ainda
não se aceitou. É uma pessoa que teme mudar os próprios gostos se ficar próximo
a alguém que tem atividades distintas das suas. Em um relacionamento, quem tem
certeza de si, não declara ódio ou briga tentando provar o porquê de sua própria
ideologia, seja ela qual for, pois esta é superior às outras; apenas aceita a
diferença ou é indiferente a ela, ou ainda, simplesmente se afasta
discretamente.
“Ah, mas meu
namorado odeia filme romântico e eu adoro”. Ora, e os pontos bons que vocês têm
em comum? Eles não deveriam contar mais do que um mero detalhe desses? Afinal,
acho que uma relação não deveria se orientar apenas por gêneros de filmes,
músicas e toda aquela lista que citei no início deste texto.
Nessas horas
devemos colocar tudo em uma balança e constatar se os pontos negativos são
maiores que os positivos. Muitas vezes
vale a pena abrir mão de uma ideologia nossa pra ganharmos algo bem mais
valioso.
“Ah, Arth,
mas a diferença é grande, não iremos durar muito tempo”. Aí está outro erro
grande: acreditar na utopia de que o amor é eterno e tem que durar pra sempre,
como nos contos de fadas. Acorda garota, você não é uma princesa Disney. E
garotão, fica de boa, quando te beijarem você irá continuar um sapo. Aquele
papo de “E viveram felizes para sempre” é tão verdadeiro quanto as histórias
que tem esses finais.
Amores não tem data marcada. Já tive
relações triviais que sobreviveram por anos e amores perpétuos que duraram a
eternidade de alguns dias ou meses.
Mas pra saber aceitar o defeito
alheio, pra saber sorrir diante dos heterogêneos é necessária certa experiência
de erros e acertos que derrubem essas teorias utópicas do amor imortal e da
pessoa “igual” a nós.
Muitos dizem: “Nossa! Vocês formavam um
casal tão lindo, porque deu errado?”
Eu respondo: Não deu nada errado, deu
tudo certo, foi perfeito, completo pelo tempo que durou. É claro que houveram problemas; problemas sempre existiram e sempre existirão em todo
relacionamento; Mas, como lidamos com eles e aprendemos a fazer com que não se
repitam é o que deve ter maior valor na vida de cada um. Hoje sou um vitorioso
por ter passado tanto tempo do lado de pessoas tão maravilhosas e com quem
aprendi tanto.
Já notou o quanto amadurecemos com o
passar do tempo? É isso! É a forma como lidamos com as diferenças, com os
problemas do dia-a-dia, que nos amadurece, nos caleja, para podermos enfrentar
a vida.
Só o coração calejado é capaz de amar.
Comece
aos poucos, vá aprendendo e aceitando devagar os defeitos alheios, afinal você
também é cheio de defeitos e muitos terão que aceitá-los.
Crônica publicada na Revista Differenza - Maio de 2014
Jornal do Pontal - Janeiro de 2014
Revista Impacto - Agosto de 2014
2 comentários oníricos::
Muito bom, melhor ainda é poder ver você falar isso tudo pessoalmente, te admiro!
Tão estranho entrar no blog pela primeira vez e ler exatamente o que precisava para agora. Li uma crônica sua em uma revista e logo corri para encontrar outros textos. Conteúdo excelente, linguagem acessível e grande sensibilidade! Parabéns!
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