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Benedito Popular
(Arth Silva)

Como não tinha onde cair morto.
Da barriga da miséria a vida o deixou cair vivo.
A partir daquele parto partiu no mundo...
Punho de ferro, coração de bumbo
Cabeça de vento, soldado de chumbo

Nos olhos da rua... Um ponto de vista
Fé cega... Pé na estrada seguindo cada pista
Nos ossos: ofício
Na cara: careta
Escrevendo certo em linhas tortas
tropeçou no pé da letra

Sem parentes ou parênteses
Foi um feto sem afeto
Filho da puta com pai virgem
Oferta do orfanato
Berço sem ouro ou origem

Metáfora fora de meta
Papas na língua semi-analfabeta
No papel branco de susto
Benedito foi mito
Dito popular
No medo de dizer...
No modo de falar...

Jardineiro sem dinheiro
Cortava o mal pela raiz
Desde amargas margaridas
a violentas violetas
Comia o fruto da imaginação
Convertia sentimento em gesto
Transformava singular em multidão

Pobre, pai, poeta
Benedito foi dito
- prosa presa no céu da boca -
E assim, correu contra a corrente...
Até o dia em que apagou seu barco a vela
Em águas passadas foi antes de ir
Benedito morreu de rir.


2 comentários oníricos::

Thaiane disse...

Quando eu li "barriga da miséria", imediatamente veio "Partido alto" do Chico Buarque à minha mente: "na barriga da miséria, nasci brasileiro. Sou do Rio de Janeiro"..
Parabéns por essas palavras fortes, o prêmio foi merecido.

E obrigada por seguir meu blog tbm.

Um abraço!

Isabela Xavier disse...

Nossa, que lindo...
Profundo, ácido e belo.
Encantou-me.



Este é um blog de sonhos cotidianos.
Toda e qualquer semelhança com fatos reais é mero plágio da vida.