O princípio da incerteza de um jurado literário
VIII Concurso de Contos do Tijuco
VIII Concurso de Contos do Tijuco
-
Arth Silva -
No fim do ano de 2013, Enio Ferreira,
o Presidente da ALAMI, como um grande amigo das letras e por saber da minha
paixão pela leitura, me convidou pra ser um dos jurados do “VIII Concurso de
Contos do Tijuco”, concurso esse que, uma vez inclusive (2007), fui selecionado
pelo miniconto “O pipoqueiro”.
Honrado pelo convite, aceitei.
Pois bem... Minha tarefa árdua,
juntamente com mais duas juradas Tereza Martins e Maria Tereza Moreira era ler
atentamente todos os contos enviados ao concurso, contos esses que vieram de
quase todos os estados brasileiros e de países como Suíça e Japão, e selecionar
os 9 melhores textos, além de, é claro, escolher o conto premiado.
Legal, eu estava preparado! Que
começasse a leitura!
Porém, fazer a leitura de tantos
textos de qualidades distintas seguidamente, e diante de um prazo corrido é uma
situação que me fez lembrar e temer o Princípio da Incerteza de Heisenberg, e
fazer um equivalente literário dele. Pra quem não sabe, esse princípio diz que
é impossível medir ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula
subatômica, uma vez que fazer essa medição altera a realidade observada. (entenderam?
Não? Peraí, vou explicar melhor).
Um equivalente literário desse
princípio anunciaria a impossibilidade de medir talentos em concursos
literários. Só que nesse caso essa medição altera não só a realidade do objeto
observado (texto), mas também a do próprio observador (jurado), já que esse tem
de ler inúmeros textos de boa qualidade seguidos por dezenas de textos com
qualidade tão baixa que me pergunto como alguém teve coragem de enviar tal
texto pra um concurso (suspeito que seja apenas pra sacanear os
jurados)... Enfim, essa quantidade de
textos de baixa qualidade lidos em sequência, dá ao jurado uma angustia e um
pessimismo quanto às próximas leituras, que altera o seu estado de consciência
diante de cada próximo texto avaliado, podendo atrapalhar no julgamento de um
conto.
Por isso, muitas vezes uma pergunta me pousou à cabeça: Será que eu saberia qualificar o texto de um novo Luiz Fernando Veríssimo, um novo Carpinejar ou até um novo Machado de Assis sem saber o nome dos autores e após ler tantos textos de qualidade tão ruim?
Por isso, muitas vezes uma pergunta me pousou à cabeça: Será que eu saberia qualificar o texto de um novo Luiz Fernando Veríssimo, um novo Carpinejar ou até um novo Machado de Assis sem saber o nome dos autores e após ler tantos textos de qualidade tão ruim?
Talvez enfrentar esse Princípio seja
um mal de toda mesa julgadora de concursos literários, mas que deve ser
encarada com profissionalismo e dedicação em busca dos contos realmente bons
que participam dos concursos para que a apresentação de resultados não
decepcione.
Quando finalmente consegui ler todos
no inicio do mês de fevereiro, pra minha surpresa e alegria, 98% dos textos que
selecionei como bons batiam com os resultados da Tereza Martins, e foram
confirmados pela Maria Tereza. Inclusive, o texto que eu selecionei como o
melhor, "Salto sem barreiras" de autoria do escritor Celso Antonio
Lopes, também estava no topo da lista das duas juradas.
Como mineradores, nós jurados tivemos que garimpar
ao máximo em meio a muita coisa sem tanto valor até encontrarmos lá no fundo as
preciosas pepitas de ouro literário. Muitos eram tremendamente banais, já
outros obras, eu gostaria de ter tido a ideia pra escrevê-los como “Encontro no
Bistrô” do gaúcho Danilo Silvio Aurich e “Anjo” do paulista André Telucazu Kondo; contos que eu, particularmente, gostei muito e que estarão no livro “VIII Concurso de Contos do Tijuco”, publicado em breve pela ALAMI. Livro que com certeza será bem recebido por
todos aqueles apreciadores do “Princípio da boa literatura”.
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